Caso Wirkin x Birkin: Nova Polêmica no Mundo da Moda de Luxo
- Liliane Agostinho Leite
- 8 de jan.
- 4 min de leitura
Uma nova controvérsia agita o mercado da moda de luxo: a venda de bolsas "Wirkin" pela rede Walmart nos Estados Unidos, uma clara referência à icônica Birkin da Hermès. Embora a renomada grife francesa ainda não tenha se manifestado oficialmente sobre o caso, as redes sociais já fervilham com a notícia, gerando intensos debates sobre propriedade intelectual e imitação no setor.
A situação levanta questionamentos importantes sobre as medidas legais que a Hermès poderá adotar para proteger sua propriedade intelectual. Vale ressaltar que disputas envolvendo designs icônicos não são novidade na indústria da moda, e diversos casos semelhantes já estabeleceram importantes precedentes jurídicos.

Wirkin x Birkin
Durante o mês de Dezembro, as redes sociais explodiram com a sensação das bolsas "Wirkin" sendo comercializadas pela cadeia de supermercados WalMart nos Estados Unidos. Enquanto isso, a prestigiada casa de moda francesa Hermès enfrenta um novo desafio com a imitação de sua emblemática bolsa Birkin.
Concorrência Desleal
Mesmo sem mencionar explicitamente a Hermès, sua famosa bolsa Birkin ou o logotipo "H", o Wirkin pode ser alvo de disputas legais devido às semelhanças com os direitos de propriedade intelectual da Hermès.
A Hermès ainda não se pronunciado sobre o Wirkin, porém poderia tomar medidas legais, especialmente quanto à prática de concorrência desleal. Com relação ao potencial risco de confusão pelo consumidor, seria desafiador argumentar que uma Wirkin, com preço inferior a US$ 100 no Estados Unidos, poderia ser confundido com a bolsa original, cujo valor inicial é de US$ 10.000, considerando a grande discrepância de preço.

Disputa da Hermès na Itália
A Hermès já enfrentou situações semelhantes no passado. Em 2009, a marca francesa entrou em confronto com a empresa italiana cAmerigo & C s.a.s. & Co, alegando que a Buti di Buti Amerigo havia violado o Art. 2598, n. 1 do Código Civil Italiano. A controvérsia girava em torno da imitação dos icônicos modelos de bolsa Hermès Birkin e Kelly, sendo considerada uma prática de concorrência desleal e uma violação das marcas registradas.
A Buti di Buti Amerigo defendeu-se, contestando a validade das marcas registradas das bolsas Hermès Birkin e Kelly, argumentando a falta de caráter distinto, devido ao fato de que as formas são "padronizadas" no mercado as formas eram genéricas . Consequentemente, Buti justificou a comercialização das réplicas das bolsas como sendo legítima.
Na decisão n. 3442/16, o Tribunal de Propriedade Intelectual de Florença decidiu contra a Hermès, negando proteção as bolsas Birkin e Kelly por não terem "caráter distintivo e original", já que reproduziam parâmetros comuns de bolsas típicas do mercado.
A Hermès apresentou materiais publicitários, artigos de revistas e referências na mídia popular, cinema e televisão. O Tribunal considerou que estas evidências não comprovavam que os consumidores associavam e reconheciam a forma das bolsas à marca.
O Tribunal de Florença, no entanto, reconheceu a validade das marcas registradas das bolsas Hermès Kelly e Birkin, considerando-as distintas.
A Suprema Corte discordou das instâncias inferiores em dois pontos principais: a necessidade de verificação específica da irregistrabilidade das marcas e a avaliação das evidências sobre distintividade das bolsas alcançadas e comprovadas pela Hermès na pesquisa de opinião pública.

Caso Bolsa 284: Proteção Autoral da Birkin no Brasil
Em solo brasileiro, destaca-se o emblemático caso Bolsa 284, que reconheceu a proteção da icônica Bolsa Birkin pelo direito autoral.
A Lei 9.610/98 assegura que os direitos autorais são protegidos independentemente de registro.
O Tribunal de Justiça de São Paulo ao avaliar o caso aplicou o Direito Autoral e estabeleceu importantes diretrizes sobre a proteção jurídica das obras de arte aplicada, esclarecendo sua natureza dual e possibilidades de proteção.
Obras de Arte Aplicada | Princípio da Unidade da Arte | Dupla Proteção Legal |
Criações artísticas com funções utilitárias ou incorporadas a objetos de uso prático | O destino da obra não interfere na proteção autoral, seja para fins artísticos ou utilitários | Podem gozar de proteção tanto pelo direito de autor quanto pelo direito de propriedade industrial |
Proteção Autoral e Aplicação na Moda
Conceito de Originalidade | Proteção Ampla | Aplicação na Moda |
A originalidade é entendida como singularidade, inovação e individualidade na criação | O elenco de obras protegidas é exemplificativo, bastando que a criação tenha originalidade relativa | Artigos e acessórios de moda, quando originais em sua forma de expressão, são considerados criações artísticas protegidas |

Por que a Proteção é Reconhecida pelo TJSP?
A proteção é reconhecida, pois a bolsas Hermès são reconhecidas mundialmente por sua elegância e beleza, com características singulares que as tornam objetos de desejo.
Foi também considerado o resultado da perícia técnica que confirmou que as bolsas apreendidas imitavam os elementos característicos das bolsas 'Birkin' e 'Kelly' da Hermès.
Por fim, o Tribunal considerou que o uso da expressão "I am not the original!" evidenciou o caráter intencional de imitação das bolsas.
Disputa MetaBirkins

Em 2021, a Hermès se viu novamente em uma acirrada disputa, desta vez com o artista Mason Rothschild e seus controversos "MetaBirkins" - uma coleção de NFTs inspirada na icônica bolsa Birkin. A marca francesa exigiu a remoção imediata do conteúdo, mas Rothschild se recusou, alegando estar amparado pela liberdade de expressão da Primeira Emenda. Após a OpenSea remover os NFTs, eles foram transferidos para a plataforma Rarible.
Em janeiro de 2022, a Hermès entrou com uma ação judicial contra Rothschild no Tribunal Federal de Nova York, argumentando que os MetaBirkins infringiam sua marca registrada e confundiam os consumidores. Durante o julgamento, Rothschild defendeu que seus NFTs eram uma crítica artística ao luxo e à crueldade animal, enquanto a Hermès alegava que a suposta confusão prejudicava seus planos de expansão no metaverso.
Finalmente, em fevereiro de 2023, o júri considerou Rothschild culpado por violação de marca, decidindo que os NFTs não estavam protegidos pela Primeira Emenda.
Conclusão
Os casos analisados demonstram a proteção jurídica conferida à marca Hermès, tanto no âmbito físico quanto digital, estabelecendo importantes precedentes para o mercado de luxo.
Quanto às bolsas Wirkin comercializadas pela rede Walmart, estas não estão mais disponíveis. Aguardaremos eventual medida adotada pela Hermés.
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